domingo, 9 de maio de 2010

NINGUÉM SEGURA ESTE PAÍS

O “otimismo” no início da década de 70 foi engendrado por uma grande campanha divulgada pela TV, através de comerciais que o governo do general Emílio Garrastazu Médici veiculava, reforçando a atmosfera de satisfação com o Golpe de 64 e seus desdobramentos. Nos anos 70 começou a transmissão televisiva em rede nacional e nessa época chegou também ao Brasil a TV em cores.

O governo criou uma Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP) e para dirigi-la nomeou o coronel Octávio Costa (um apreciador de poesia), que foi o responsável pela produção destes comerciais que consolidavam as mensagens de confiança no governo - não subestimando para o êxito desse objetivo os préstimos de produtores das empresas privadas.

Estes comerciais falavam de coisas simples e mostravam o Brasil entrando em uma nova fase, de muita prosperidade, o que haveria de torná-lo - certamente - uma grande potência, apresentavam gente feliz, crianças, jovens e idosos de todas as raças, vivendo num país de alegria e fartura, e terminavam com uma frase curta, tipo: "Este é um país que vai pra frente", "O Brasil merece o nosso amor", “Brasil ame-o ou deixe-o”.

Na ditadura militar, vivíamos "bons tempos" (esqueçam a repressão, as prisões, a violência contra a oposição, a tortura, o arrocho salarial, a inflação, o desmanche da escola pública, etc, etc…). A censura, em vigor desde a promulgação do AI-5, proibia quaisquer outros meios de comunicação em tocar nesses assuntos. Só sobrava a imagem da propaganda política do governo.

"Povo desenvolvido é povo limpo", dizia uma campanha pela limpeza das cidades liderada por Sujismundo, um personagem que jogava lixo nas calçadas e sujava tudo, mas que tinha a aparência simpática de quem erra não por maldade, mas por ignorância. Os mandatários naquele Brasil viam os brasileiros assim: um povo despreparado, que não sabia se comportar, que devia ser educado para ter o privilégio de viver no novo país que eles estavam produzindo.

A possibilidade desse novo Brasil criava um clima de euforia e satisfação nas pessoas, especialmente na classe média que vinha conseguindo alguns benefícios com o regime militar. E, assim, consolidava-se a informação de que o Golpe de 64 tinha sido mesmo a melhor solução. Esse otimismo foi fortalecido ainda mais com a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1970, a primeira tricampeã mundial. E aí a dita cuja afirmou: "Ninguém segura este país”.

...texto inspirado pelo capítulo "Futebol, TV e propaganda política", publicado no livro O regime militar no Brasil (1964-1985), de Carlos Fico

7 comentários:

  1. Ana...
    Adorei a postagem. Resumiu muito do que VIVI.
    Admito que era um pouco bestinha na época e pouco entendia. Não sabia se SUGISMINDO era história em quadrinho ou "militância". Mas sei que não gostava dele... Com o passar do tempo percebia que não gostava mesmo... Agora sei que não mesmo. rs...

    ResponderExcluir
  2. SO DE OUVIR A EXPRESSAO
    NINGUEM SEGURA ESSE BRASIL
    FICO ARREPIADO
    NESSA EPOCA SEGURAR ERA BARRA PESADA
    OS MILICA SEGURAVAM MESMO
    NAO PODIAM VER MAIS DE DUAS PESSOAS ANDANDO JUNTAS NA RUA QUE CONSIDERAVAM QUADRILHA DE TERRORISTAS
    MAS ESTOU UM POUCO MAIS TRANQUILO COM ISSO
    ANDO SOZINHO
    SEM RISOS
    POR FAVOR
    ISSO NAO FEZ DE MIM UM NEUROTICO
    APENAS UM SOLITARIO

    ResponderExcluir
  3. Sarah, minha querida
    E quem com pouca idade já não foi um pouco “bestinha”, e esse tipo de campanha infelizmente não é prerrogativa de tempos duros de ditadura militar, volta e meia a gente se depara com coisas assim, é a ideologia dominante querendo nos vender seu modo de ser e ver para se manter hegemônica.

    ResponderExcluir
  4. Ana, querida...
    É mesmo...Essa coisa horrorosamente manipuladora...
    Hoje mesmo... Porque nenhuma emissora de TV (exceto a Record) não deu a matéria que "O Bolsa Família", do atual governo brasileiro, recebeu premiação da ONU, por estar contribuindo para erradicar a fome no
    Brasil (aliás, a ONU falou "no mundo"). Por que? Para não dar voto?
    Coisa que mais me irrita são os que destroém só para manter, ou resgatar, a mediocridade, a falta de méritos...

    ResponderExcluir
  5. Slvio...
    Vc não está solitário
    Sou vc e vc é eu
    E assim, dúvido quem segure a gente
    Já estamos seguros por nós
    Nós !!!
    Nossos nós
    bjs

    ResponderExcluir
  6. Ah que sinistro
    Lembro que minha mae as vzes me chamava de sugismundo eu pensava que era invençao dela.
    Vivendo e aprendendo
    ashuashuashuashu

    ResponderExcluir
  7. Quando ouvia "Este é um país que vai pra frente" eu completava com "ou ou ou ou ou"
    "De uma gente amiga e tão contente" "ou ou ou ou ou"
    No lugar dos "Uô Uô Uô Uô Uô" que "Os Incríveis" arrotavam
    argharghargh

    ResponderExcluir