O “otimismo” no início da década de 70 foi engendrado por uma grande campanha divulgada pela TV, através de comerciais que o governo do general Emílio Garrastazu Médici veiculava, reforçando a atmosfera de satisfação com o Golpe de 64 e seus desdobramentos. Nos anos 70 começou a transmissão televisiva em rede nacional e nessa época chegou também ao Brasil a TV em cores.
O governo criou uma Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP) e para dirigi-la nomeou o coronel Octávio Costa (um apreciador de poesia), que foi o responsável pela produção destes comerciais que consolidavam as mensagens de confiança no governo - não subestimando para o êxito desse objetivo os préstimos de produtores das empresas privadas.
Estes comerciais falavam de coisas simples e mostravam o Brasil entrando em uma nova fase, de muita prosperidade, o que haveria de torná-lo - certamente - uma grande potência, apresentavam gente feliz, crianças, jovens e idosos de todas as raças, vivendo num país de alegria e fartura, e terminavam com uma frase curta, tipo: "Este é um país que vai pra frente", "O Brasil merece o nosso amor", “Brasil ame-o ou deixe-o”.
Na ditadura militar, vivíamos "bons tempos" (esqueçam a repressão, as prisões, a violência contra a oposição, a tortura, o arrocho salarial, a inflação, o desmanche da escola pública, etc, etc…). A censura, em vigor desde a promulgação do AI-5, proibia quaisquer outros meios de comunicação em tocar nesses assuntos. Só sobrava a imagem da propaganda política do governo.
"Povo desenvolvido é povo limpo", dizia uma campanha pela limpeza das cidades liderada por Sujismundo, um personagem que jogava lixo nas calçadas e sujava tudo, mas que tinha a aparência simpática de quem erra não por maldade, mas por ignorância. Os mandatários naquele Brasil viam os brasileiros assim: um povo despreparado, que não sabia se comportar, que devia ser educado para ter o privilégio de viver no novo país que eles estavam produzindo.
A possibilidade desse novo Brasil criava um clima de euforia e satisfação nas pessoas, especialmente na classe média que vinha conseguindo alguns benefícios com o regime militar. E, assim, consolidava-se a informação de que o Golpe de 64 tinha sido mesmo a melhor solução. Esse otimismo foi fortalecido ainda mais com a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1970, a primeira tricampeã mundial. E aí a dita cuja afirmou: "Ninguém segura este país”.
...texto inspirado pelo capítulo "Futebol, TV e propaganda política", publicado no livro O regime militar no Brasil (1964-1985), de Carlos Fico