sexta-feira, 21 de maio de 2010

O que resta da ditadura

A tradição dos oprimidos nos ensina que o estado de exceção em
que vivemos é na verdade regra geral. Precisamos construir um
conceito de história que corresponda a essa verdade. Nesse momento,
perceberemos que nossa tarefa é criar um verdadeiro estado de emergência.
Walter Benjamin

"A ditadura militar brasileira encontrou uma maneira insidiosa de se manter, de permanecer em nossa estrutura jurídica, nas práticas políticas, na violência cotidiana, em nossos traumas sociais. (...)Ao mesmo tempo que se nega seu alcance e se minimiza seu legado autoritário, a exceção brasileira indica as circunstâncias que permitiram certa continuidade da ditadura brasileira. O fato é que a ditadura não está somente lá onde o imaginário da memória coletiva parece tê-la colocado. Mais ainda: sua permanência não é mais simples presentificação daquilo que já foi, do passado de repressão, mas reaparece hoje nas práticas institucionais." (Aba do livro "O que resta da ditadura", orgs Edson Teles e Vladimir Safatle)

domingo, 9 de maio de 2010

NINGUÉM SEGURA ESTE PAÍS

O “otimismo” no início da década de 70 foi engendrado por uma grande campanha divulgada pela TV, através de comerciais que o governo do general Emílio Garrastazu Médici veiculava, reforçando a atmosfera de satisfação com o Golpe de 64 e seus desdobramentos. Nos anos 70 começou a transmissão televisiva em rede nacional e nessa época chegou também ao Brasil a TV em cores.

O governo criou uma Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP) e para dirigi-la nomeou o coronel Octávio Costa (um apreciador de poesia), que foi o responsável pela produção destes comerciais que consolidavam as mensagens de confiança no governo - não subestimando para o êxito desse objetivo os préstimos de produtores das empresas privadas.

Estes comerciais falavam de coisas simples e mostravam o Brasil entrando em uma nova fase, de muita prosperidade, o que haveria de torná-lo - certamente - uma grande potência, apresentavam gente feliz, crianças, jovens e idosos de todas as raças, vivendo num país de alegria e fartura, e terminavam com uma frase curta, tipo: "Este é um país que vai pra frente", "O Brasil merece o nosso amor", “Brasil ame-o ou deixe-o”.

Na ditadura militar, vivíamos "bons tempos" (esqueçam a repressão, as prisões, a violência contra a oposição, a tortura, o arrocho salarial, a inflação, o desmanche da escola pública, etc, etc…). A censura, em vigor desde a promulgação do AI-5, proibia quaisquer outros meios de comunicação em tocar nesses assuntos. Só sobrava a imagem da propaganda política do governo.

"Povo desenvolvido é povo limpo", dizia uma campanha pela limpeza das cidades liderada por Sujismundo, um personagem que jogava lixo nas calçadas e sujava tudo, mas que tinha a aparência simpática de quem erra não por maldade, mas por ignorância. Os mandatários naquele Brasil viam os brasileiros assim: um povo despreparado, que não sabia se comportar, que devia ser educado para ter o privilégio de viver no novo país que eles estavam produzindo.

A possibilidade desse novo Brasil criava um clima de euforia e satisfação nas pessoas, especialmente na classe média que vinha conseguindo alguns benefícios com o regime militar. E, assim, consolidava-se a informação de que o Golpe de 64 tinha sido mesmo a melhor solução. Esse otimismo foi fortalecido ainda mais com a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1970, a primeira tricampeã mundial. E aí a dita cuja afirmou: "Ninguém segura este país”.

...texto inspirado pelo capítulo "Futebol, TV e propaganda política", publicado no livro O regime militar no Brasil (1964-1985), de Carlos Fico

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Manifesto de João Vicente Goulart proferido no Memorial da Resistência - São Paulo 13/03/10

trecho do Manifesto de João Vicente Goulart proferido no Memorial da Resistência - São Paulo 13/03/10

"Nesta solenidade sobre a resistência, a contribuição que a família Goulart pode oferecer - é suscitar o debate de que está na hora de admitir que o BRASIL perdeu a Guerra Fria. Após 40 anos da perda da nossa soberania, podemos encerrar a controvérsia, pois com a desclassificação dos documentos secretos norte-americanos estão definitivamente comprovados o patrocínio estrangeiro do golpe militar e o tamanho da farsa orquestrada em 01 de abril de 1964. (...) Jango não teve como evitar a derrota de nosso país, mas é o maior responsável pela integridade nacional que ainda perdura!

Sim, o objetivo estratégico do golpe de 01 de abril de 1964 era uma guerra civil que inviabilizasse o nascimento de uma nova potência mundial no hemisfério Sul do planeta. Esta era a previsão da CIA e mais uma etapa da guerra fechada promovida contra o nosso país desde 1945. (...) Era a morte certa da 4ª. potência mundial.
 (...)
O Brasil de hoje precisa entender a extensão da derrota que sofremos. Como aconteceu a perda de nossa autodeterminação e de nossa vontade soberana? Precisa entender que nossa submissão à potência hegemônica foi resultante de uma estratégia de Guerra.
(...)
O verdadeiro resgate da soberania nacional começa com o desagravo e o reconhecimento públicos do valor da resistência pacífica de Jango contra a insurreição militar dos traidores de nossa pátria que preservou a integridade nacional.

Acreditar que não podemos mudar nosso país e que precisamos nos conformar com a situação é obedecer à psicologia de massa usada como amortecedor pelas forças que atuam para impedir o exercício de nossa soberania!

Acreditamos que, neste momento, a defesa da soberania do Brasil precisa obedecer aos princípios consagrados pela política de Estado de Jango: Resistência Pacífica, Legalidade, Diálogo, Democracia e Justiça Social!"

~~João Vicente Goulart

Golpe de 64

O vídeo a seguir resume pontos significativos da Ditadura no Brasil.

A Ditadura Militar(golpe de 64)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

General Newton Cruz fala de bastidores do Regime Militar

O vídeo a seguir é do "DOSSIÊ GLOBONEWS" - dividido em 5 partes

(exibido em abril de 2010)

A entrevista é com o General Newton Cruz, o mais polêmico dos generais do período da ditadura militar no Brasil. Considerado da "linha dura" do Exército. Newton Cruz foi chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informação, o famoso SNI, em Brasília, durante seis anos, de 1977 a 1983. Nesse posto, virou guardião de segredos sobre os bastidores do poder. Ele ganhou fama de "linha dura" quando ocupou um posto importante, o Comando Militar do Planalto. Coube a ele executar as medidas de emergência baixadas pelo governo militar para evitar manifestações públicas em Brasília, durante votações importantes no Congresso Nacional.
Nessa entrevista ao DOSSIÊ GLOBONEWS, o General Newton Cruz quebrou o silêncio que vem mantendo nos últimos anos para falar de um dos segredos que guarda: militares estariam preparando um novo atentado igual ao que seria cometido no Rio-Centro em abril de 1981. Quando soube do plano, Newton Cruz viajou de Brasília ao Rio de Janeiro e, numa reunião secreta, num quarto de hotel, no bairro do Leme, ele teve um diálogo duro com os militares envolvidos na operação, dissuadindo-os da ideia.

Hoje, aos 85 anos, Newton Cruz está viúvo e mora com sua filha em um apartamento na zona oeste do Rio de Janeiro.

DOSSIÊ GLOBONEWS - NEWTON CRUZ - 1/5

DOSSIÊ GLOBONEWS - NEWTON CRUZ - 2/5

DOSSIÊ GLOBONEWS - NEWTON CRUZ - 3/5

DOSSIÊ GLOBONEWS - NEWTON CRUZ - 4/5

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Definição de GERAÇÃO para o ambiente corporativo - baseada em modelo norte americano

Conheça as gerações (Veteranos, Boomers, X e Y)

Retirado da Revista HSM Management 70 setembro - outubro 2008

Pela primeira vez na história corporativa, há quatro gerações compartilhando um mesmo espaço. Quando os funcionários de mais idade eram os chefes e os executivos mais jovens faziam o que lhes mandavam fazer, não se questionava o que dizia a diretoria, eram as regras. Agora, porém, as normas são reescritas diariamente. Veja abaixo algumas diferenças entre as gerações:

Veteranos ou Seniores (nascidos antes de 1946), boomers (nascidos entre 1946 e 1964), geração X (nascidos entre 1965 e 1980) e geração Y, também chamada de geração do milênio ou Facebook (nascidos de 1980 para cá).

Feedback:
- Os Y esperam feedback de todos no local de trabalho.
- A geração X prefere que não intervenham em seu trabalho.
- Os boomers tendem ao formalismo da avaliação anual.
- Os veteranos podem ser descritos com uma frase: "Se não há nenhuma notícia, é boa notícia".

Expectativas com relação ao trabalho e valores
- A geração Y é expert no uso da tecnologia. Influenciada pela web 2.0 (wikis, blogs e redes sociais), mantém fortes laços com suas comunidades, que são, em geral, virtuais. Seus membros são pragmáticos e irreverentes. Seus representantes desejam trabalhos "com sentido" e ambientes propícios à colaboração. Querem ter controle econômico de sua vida e são determinados na defesa do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.
- Os que pertencem à geração X se definem, mais que qualquer outra coisa, pela mídia e pela tecnologia. Querem passar mais tempo com os filhos e, por essa razão, trabalhar menos. São céticos e individualistas. Apreciam a informalidade e a autoridade proveniente do mérito.
- Os boomers respeitam as hierarquias, são competitivos, idealistas e ambiciosos. Não vêem o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional com fator decisivo.
- Os veteranos veneram a disciplina e a cadeia de comando. São conservadores e esperam uma relação de longo prazo com as empresas.

sábado, 1 de maio de 2010

1º de maio: dia do Trabalho ou do Trabalhador?

"Como explicar que hoje três quartos da humanidade estejam afundando no estado de calamidade e miséria somente porque o sistema social de trabalho não precisa mais de seu trabalho?

Trabalho não é, de modo algum, idêntico ao fato de que os homens transformam a natureza e se relacionam através de suas atividades. Enquanto houver homens, eles construirão casas, produzirão vestimentas, alimentos, tanto quanto outras coisas, criarão filhos, escreverão livros, discutirão, cultivarão hortas, farão música etc.

A história da modernidade é a história da imposição do trabalho que deixou seu rastro amplo de devastação e horror em todo o planeta.

'Afastai os ociosos', dizia o Hino Internacional do Trabalho – e 'o trabalho liberta' ecoava aterrorizantemente sobre os portões de Auschwitz.

Se o rei Midas ao menos ainda vivenciava como maldição o fato de que tudo em que tocava virava ouro, o seu companheiro de sofrimento moderno já ultrapassou esse estado. O homem do trabalho nem nota mais que, pela adaptação ao padrão do trabalho, cada atividade perde sua qualidade sensível específica e torna-se indiferente. Ao contrário, ele dá sentido, razão de existência e significado social a alguma atividade somente através desta adaptação à indiferença do mundo da mercadoria. Até mesmo sonhar torna-se 'trabalho de sonho', o conflito com a pessoa amada torna-se 'trabalho de relação' e o trato de crianças é desrealizado e indiferenciado como 'trabalho de educação'. Sempre que o homem moderno insiste em fazer algo com seriedade, tem na ponta da língua a palavra trabalho."


Fragmentos do Manifesto Contra o Trabalho, jun/2001, grupo Krisis (Robert Kurz)