por Cristiano Navarro
Em 1933, no pequeno municí

Em seu livro “De Ernesto a Che” – A segunda e última viagem de Guevara pela América Latina, Calica conta que não se lembra quando conheceu o amigo. “Com certeza deve ter sido em um dos típicos aniversários infantis a que nossas mães nos devem ter arrastado, depois de lavados, engomados e emperiquitados como era costume naquele tempo. Com certeza, devem ter dito a Guevara: ‘Venha, você vai conhecer o filho do doutor Ferrer, o médico que o atendeu; quem sabe se tornam amigos’”.
Na conservadora e provinciana cidade de Alta Garcia, além da asma, os Guevara e os Ferrer tornaram-se próximos por compartilharem visões progressistas sobre diferentes assuntos e simpatizar ideologicamente com o socialismo clássico. Um exemplo das posições que compartilhavam, estava relacionada à situação da Espanha na década de 1930. Ambas as famílias declaravam apoio incondicional à nova República que havia se instalado no país, que logo se explodiria em uma guerra civil e por, consequência, na ditadura fascista de Francisco Franco.
Assim, brincando e brigando como qualquer par de amigos, cresceram juntos. E em 7 de julho 1953, os amigos partiram em uma viagem pela América Latina (descrita no livro de Calica).
A viagem, a segunda pelo continente de Ernesto, acabaria transformando o amigo de Calica no Comandante Che Guevara. “Mas quando viajamos, Ernesto não sabe que vai chegar a ser Che, isso é uma coisa que é preciso ter cuidado para não super dimensioná-lo. Para não tirá-lo da realidade. Che é um homem de carne e osso. E quando era criança, adolescente e jovem fez as travessuras que faz qualquer ser humano”.

Na formação de Che, Calica destaca uma pessoa importante. “Eu digo que a sua melhor preparação política é a partir do momento em que ele conhece a sua primeira mulher, Hilda Gadea. Uma mulher que era intelectualmente muito preparada, que realmente o colocou no marxismo. A partir daí, Ernesto passa a perceber qual pode ser a forma de encarar as coisas para começar o que tinha de ser feito imediatamente: reunir doze tipos para fazer uma revolução”.
Ecos
Quarenta e quatro anos depois de sua morte, ainda parece impossível dimensionar o personagem histórico Ernesto “Che” Guevara. Calica cita um outro amigo pessoal de Guevara, o ex-ministro cubano Orlando Borrego, para ajudar a sintetizar a falta de proporção. “A biografia de Che ainda não está escrita. Todas as boas verdades vão se somando pra que ela seja escrita. É Fantástico imaginar que a vida de um homem de 39 anos, depois de tantas coisas escritas, ainda não se pode condensar o que foi”.
Na visão do amigo, quando triunfa a revolução, Che se consolida como a figura forte, jovem e revolucionária. “É importante destacar a idade que tinha. Aos 32 anos era o primeiro comandante. Depois foi Ministro. Instituiu fábricas, colégios, foi educador. Foi embaixador itinerante da revolução”.

Carne, osso e mito
Calica carrega consigo as duas visões de Che, uma de seu amigo e a outra do mito. “É uma questão de evolução de um amigo que cresce, que cresce, que cresce. E que mesmo depois de morto se engrandece ainda mais. Por um lado, me sinto feliz que assim seja. Dei-me conta que seu exemplo e sua morte tiveram um destino útil para humanidade.”
Para Calica, mesmo os seus opositores, em sua maioria e de alguma forma, respeitam o revolucionário. “Das pessoas, digamos mais indiferentes, em geral pelo menos reconhecem em Che um homem muito valente, que deu sua vida por um ideal. Já os que fazem uma crítica implacável como a que sai da cabeça de Mário Vargas Llosa, que por exemplo vai ao jornal mais conservador da Argentina, La Nación, e publica disparates ridículos, creio que estes não tenham efeito. É tão contundente o peso de Che, que para seus detratores não há muitos argumentos”.

Das tantas produções, “Diários de Motocicleta” de Walter Salles e “Che” partes 1 e 2 de Steven Soderbergh são citados por Calica como bons filmes a respeito do amigo. No entanto, ele diz que não são poucas as vezes que escuta, lê e vê bobagens. “Tenho escutado cada mentira, que muitas vezes tenho que intervir.”
Com orgulho e saudade, Calica fala do amigo. Mas se perguntado sobre uma autobiografia sua ele responde “Veja bem, se você conhecesse um amigo de Karl Marx, iria querer saber sobre Marx. Não sobre o seu amigo”.
Serviço:
De Ernesto a Che - A segunda e última viagem de Guevara pela América Latina
Autor: Carlos "Calica" Ferrer
Editora: Planeta
Páginas: 238
publicado originalmente em Brasil de Fato
Leia mais sobre Che Guevara
14 de junho, hoje Che Guevara faria 83 anos
Que ótima dica. Adoro Che. Gracias amigos.
ResponderExcluirPara mim Che é mesmo essa figura forte, jovem e revolucionária citada pelo autor. Não conheço outro igual.
ResponderExcluirMirian Justino
Lindo Che
ResponderExcluir"Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida."
Por falar em lindo, senhores TOPs :) Adorei a frase do Drummond que voces ilustraram o blog. Para voces também que esse ano novo venha bem acordadinho e radiante. beijos
ResponderExcluirCIDA, obrigado pelo carinho, você sempre atenciosa com a gente. Feliz 2012. Beijos.
ResponderExcluirJá estou lendo. Amo Ernestito. :-)
ResponderExcluir