sexta-feira, 1 de abril de 2011

Desordem e Regresso naquele 1º de abril…

por André Raboni

Hoje é sexta-feira dia 1º de abril – o dia da mentira. Há 47 anos o Brasil mergulhava em duas longas décadas de regime militar que iria perseguir, sequestrar, torturar e matar, em nome do Estado, quem ousasse se opor aos militares.

Sob o lema Brasil, ame-o ou deixe-o, atrocidades bizarras foram cometidas em nome da ordem e do progresso da nação: sessões de tortura com choque elétrico nos sacos masculinos e nas vulvas femininas; mortes macabras como a do Padre Henrique e a de Vladimir Herzog são apenas alguns exemplos.

A partir daquele dia 1º de abril de 64, o Brasil enveredava num tempo ainda hoje obscuro: a maior parte dos arquivos do período permanece trancafiada, numa clara afronta ao nosso direito constitucional à verdade e à informação.

Um abaixo-assinado da OAB do RJ vem abrindo uma frente da sociedade civil na Campanha pela Memória e pela Verdade, e pode ser assinado clicando aqui. Outras iniciativas, como a campanha #DesarquivandoBR, movida pela jornalista Niara de Oliveira, buscam tencionar o governo federal e vem mobilizando blogueiros e tuiteiros de todo o país em prol da abertura dos arquivos da ditadura.

O engajamento da sociedade pela abertura dos arquivos é importante porque a ditadura foi encerrada com os nossos militares barganhando no Congresso uma lei de auto anistia que passou a mão na cabeça de torturadores e assassinos doentios, que se arvoraram do poder da autoridade delegado pelo Estado brasileiro para cometer suas atrocidades. Nas palavras do ministro do STF, Carlos Ayres Britto, quando do julgamento da Lei de Anistia, aqueles “torturadores são tarados, monstros e desnaturados“.

A herança deixada por essa permissividade do Estado que perdoou seus torturadores e assassinos ainda pode ser vista nos vários casos de abusos de autoridade, como recentemente foi mostrado num vídeo onde um policial atirava à queima roupa no peito de um garoto indefeso de 14 anos, na cidade de Manaus. A certeza de impunidade está no rol das heranças do perdão a torturadores de coturnos nacionalistas.

De sua parte, a grande e velha mídia brasileira, a partir daquele dia 1º de 1964, amanhecia injetando na sociedade brasileira suas doses cavalares de anestesia da realidade, produzindo uma um extenso e intenso véu que manipulava a ordem política do país.

Hoje é dia 1º de abril. 47 anos de um golpe que os aduladores do Orvil, também leitores vorazes daquelas manchetes manipuladoras, insistem em chamar de “revolução democrática”, ou “contragolpe”. No Orvil está concentrada a visão historicista e caolha dos militares sobre as tentativas de golpe ao longo do século XX e sobre a ditadura militar. O site A verdade sufocada (que difunde as ideias do Orvil) é regido pelo ex-torturador Carlos Alberto brilhante Ustra.

Está sendo planejada a sua publicação (este era o famoso livro secreto dos militares) em breve. O Orvil advoga falar a verdade verdadeira sobre o regime militar, mas curiosamente não toque no assunto de abertura dos arquivos como forma de os pesquisadores e a sociedade poderem esclarecer por si mesmos a história desse período. Advogar desta forma a verdade, escamoteando suas documentações para o porão, não me parece mais que a advocacia de uma meia-verdade.

Nada mais adequado para iniciarmos o dia de hoje, que relembrar as principais notícias e manchetes dos nossos grandes paladinos da democracia – os veículos de imprensa.

“Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade … Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas”
(Editorial do Jornal do Brasil – Rio de Janeiro – 1º de Abril de 1964)

“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, desordem social e corrupção generalizada”.
(Jornal do Brasil, edição de 01 de abril de 1964.)

“Milhares de pessoas compareceram, ontem, às solenidades que marcaram a posse do marechal Humberto Castelo Branco na Presidência da República …O ato de posse do presidente Castelo Branco revestiu-se do mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve”
(Correio Braziliense – Brasília – 16 de Abril de 1964)

“A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil”
(Editorial de O Povo – Fortaleza – 3 de Abril de 1964)

“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores gatunos que a história brasileira já registrou., o Sr João Goulart passa outra vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela já conheceu.”
(Tribuna da Imprensa – Rio de Janeiro – 2 de Abril de 1964)

“Multidões em júbilo na Praça da Liberdade.
Ovacionados o governador do estado e chefes militares.
O ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade. Toda área localizada em frente à sede do governo mineiro foi totalmente tomada por enorme multidão, que ali acorreu para festejar o êxito da campanha deflagrada em Minas (…), formando uma das maiores massas humanas já vistas na cidade”
(O Estado de Minas – Belo Horizonte – 2 de abril de 1964)

E o melhor de todos, o editorial de O Globo de 2 de abril de 1964:

“Ressurge a Democracia"

Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.

Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.

Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.

Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.

As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”

No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.

Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.

Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.

A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.”

fonte: http://acertodecontas.blog.br/artigos/desordem-e-regresso-naquele-1%C2%BA-de-abril/

7 comentários:

  1. Hoje é sexta-feira, 1º de abril, há 47 anos de um golpe severo sobre o Brasil que serviu para retardar a nação e transformá-la numa grande mentira.

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  2. Foi um dia negro que alastrou por anos e anos uma escuridão que até hoje sombreia nossas vidas. Seja na atitude da polícia que mata impunemente gente inocente e na submissão dos que aceitam calados essa conduta nada legal de uma corporação que deveria proteger o povo.
    Salete

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  3. E pensar que tem quem comemore isso como o dia da libertação do Brasil e da introdução da democracia.
    Agnaldo Pereira

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  4. É Agnaldo
    Hoje mesmo bati boca um cara quando o ouvi dizer do bom tempo que era esse quando o Brasil estava em ordem sob as mãos de militares que sabiam controlar a violência e punir arruaçeiros.
    Mas pelo menos no final da discussão ele até se redimiu ao dizer: No entanto todos nós éramos suspeitos.

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  5. Dia para acender velinhas pelos que morreram por esse país traído por interesses de outro país e que por issozinho traiu seu povo.

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  6. BOA SORAYA
    EU BATO BOCA O TEMPO TODO TEM HORA ATÉ EU ME ACHO UM CHATO :D

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  7. obrigado me AJUDARAM NO TRABALHO ESCOLAR :0

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