Mães de Maio lançam livro sobre a chacina cometida em 2006 sob pretexto de resposta ao PCC
Em 12 de maio as chacinas cometidas em São Paulo completaram 5 anos. No mesmo dia as "Mães de Maio" prepararam o lançamento do livro "Do luto à luta - Mães de Maio", seguido de coletiva de imprensa e ato público.
O Genocídio do Estado Brasileiro
A violência do Estado Brasileiro contra sua própria população é um problema crônico reconhecido mundialmente. Segundo o “Mapa da Violência de 2011”, divulgado pelo insuspeito Ministério da Justiça, entre os anos de 1998 e 2008, mais de 500 Mil pessoas foram assassinadas no país – sendo grande parte delas vítimas da violência policial. Conforme outra pesquisa, divulgada em 2009 pela Secretaria de Direitos Humanos, UNICEF e Observatórios de Favelas, a continuar no mesmo ritmo de violência, mais de 33.5 mil jovens serão executados no Brasil no curto período de 2006 a 2012.
Os estudos apontam que os jovens negros têm risco quase três vezes maior de serem executados em comparação com os brancos. Segundo a ong Human Rights Watch, o número de homicídios cometidos pela polícia de São Paulo também tem sido extremamente alto: em 2008, por exemplo, o número de homicídios cometidos por policiais supostamente durante confrontos no estado de São Paulo (397) é superior ao número total de homicídios cometidos por policiais em toda a África do Sul (351), um país com uma taxa de homicídio superior a de São Paulo.
Os Crimes de Maio de 2006
Os Crimes de Maio certamente foram o episódio mais emblemático deste contexto. Entre os dias 12 e 20 de maio de 2006, no estado de São Paulo, policiais e grupos paramilitares de extermínio promoveram um dos mais vergonhosos escândalos da história brasileira. Em uma cínica e mentirosa “onda de resposta” ao que se chamou na grande imprensa de “ataques do PCC”, foram assassinadas no mínimo 493 pessoas - que hoje constam entre mortas e desaparecidas. Há estudos, no entanto, que apontam para um número ainda maior de assassinatos no período, considerando ocultações de cadáveres, falsificações de laudos e outros recursos utilizados por tais agentes públicos violentos.
Um acontecimento terrível, em suma, que vitimou sobretudo jovens pobres – negros e afro-indígena-descendentes – executados sumariamente por policiais e grupos de extermínio ligados ao estado. Dos quais, é importante se ressaltar, não há sequer um caso de policiais que tenham sido devidamente investigados, julgados e punidos conforme a própria lei orienta.
Sem dúvida, o maior e mais emblemático Massacre da história brasileira recente, sendo um marco daquilo que os companheiros da Rede Contra Violência chamam de “A Era das Chacinas”, iniciada com a Chacina de Acari, em 1990.
Quem são as mães de maio?
O movimento Mães de Maio é uma rede de Mães, Familiares e Amig@s de vítimas da violência do Estado Brasileiro (principalmente da Polícia), formado aqui no estado de São Paulo a partir dos famigerados Crimes de Maio de 2006. Foi a partir da Dor e do Luto gerado pela perda de noss@s filh@s, familiares e amig@s que nos encontramos, nos reunimos e passamos a caminhar juntas.
Nossa missão é lutar pela Verdade, pela Memória e por Justiça para todas as vítimas da violência contra a população Pobre, Negra, Indígena e contra os Movimentos Sociais brasileiros, de Ontem e de Hoje. Verdade e Justiça não apenas para @s mort@s e desaparecid@s dos Crimes de Maio de 2006 ou dos Crimes de Abril de 2010, mas para todas as vítimas do massacre contínuo que o estado pratica historicamente no país. Nosso objetivo maior é construir, na Prática e na Luta, uma sociedade realmente Justa e Livre.
Por Justiça e Liberdade
Assim como aconteceu durante a Ditadura Civil-Militar brasileira, e tantas outros episódios violentos cometidos pelo Estado, os Crimes de Maio de 2006 cometidos por agentes policiais também permanecem impunes, nesta tal democracia. Resultado: a violência policial de lá pra cá tem se intensificado.
Desde o nosso surgimento, conseguimos dar alguns pequenos passos. E, talvez, o principal deles tenha sido justamente dar o verdadeiro nome aquilo que a grande imprensa e setores da elite brasileira insistiam em simplesmente ocultar.
Rumo ao 5º aniversário dos Crimes de Maio de 2006, é preciso urgentemente dar muitos passos, concretos: superar novas barreiras simbólicas, políticas e jurídicas. Uma sociedade realmente democrática não se constrói sem encarar todo o seu Passado, sem assimilar toda sua Verdade Histórica. Sabemos que no Brasil há uma blindagem pesada feita pelas elites civis e militares para isto não acontecer. Entretanto, diante de todo este poder opressivo imposto pelo dinheiro, pelas mídias e pelas armas, nós não nos intimidamos!
Federalização e Desarquivamento
Uma das principais bandeiras do nosso movimento é o Desarquivamento e a Federalização, o devido Julgamento e a Punição dos responsáveis pelos Crimes de Maio de 2006 e de Abril de 2010 – cujas investigações, todas, foram simplesmente arquivadas. Assim, nossa luta se insere numa longa tradição de resistência dos oprimidos e oprimidas deste país, com os quais nos solidarizamos.
(publicado originalmente em Caros Amigos)
Como sou contra a pieguice... Ao céu deve-se lançar espadas. E que estas atinjam os merecedores. E sangrem como fizeram com inocentes.
ResponderExcluirÉ Silvio, nem sempre atingem os merecedores.
ResponderExcluirMesmo assim é preciso lançar.
Aceitar é conformismo sem estar nos conformes.
Conforme é uma situação onde não é aceito nada que deponha ao que é JUSTÇA estabelecida pelo ESTADO.
Se polícia pode matar impunemente porque cívis não podem?
Estado de HORROR estabelecido. Que democracia é essa que faz valer valores da linha dura?