
Sem entrar na questão política que o espetáculo aborda, quero focar o trabalho teatral do grupo, texto, interpretação, direção…
A espetacular interpretação das atrizes Ana Maria Quintal e Camila Scudeler, com sensibilidade e entrega a seus personagens, nos conduz com maestria e leveza pelas reflexões, questionamentos e emoções de um texto que sem ter conotação didática, exibe a realidade e a dor vivida nos anos de chumbo da ditadura brasileira, em toda a sua trajetória até nossos dias.
A linguagem fragmentada utilizada pelo grupo é instrumento perfeito para trazer luz a aqueles que passaram por esse tempo com os olhos vendados pela ignorância e desinteresse ou para os mais jovens que não viveram este tenebroso e escuro período da vida de nosso país.
Sérgio Santiago diretor do espetáculo, soube sem dúvida explorar o talento destas duas atrizes, presenteando o espectador com cenas envolventes que vão da extrema delicadeza a pesada angustia, exibindo um grande cuidado em sua construção.
Em muitos momentos da peça a emoção nos envolve, o peito aperta, pois não é fácil lembrar daqueles dias.
A peça descreve de maneira inteligente, humorada e poética todos os acontecimentos e motivações que levaram as elites dominantes apoiadas por uma ala das forças armadas ao golpe de 64 desde Getulio Vargas.
Ao sair do teatro uma coisa estava clara; na covardia e conforto de alguns devemos apagar este período de nossa história, mas para aqueles em que a coragem e a liberdade são fatores predominantes na busca de dias melhores para todos, temos que cantar em uníssono, Ou É, Ou É, Ou É, É Ou… para que os filhos rejeitados desta mãe cruel chamada Dita, não sejam eternos cegos e consigam ver a liberdade no horizonte do Brasil.
Tudo que faz a gente pensar deve ser levado em consideração. Se essa peça provoca isso tenho mais que assisti-la.
ResponderExcluirDesde já meus parabens, quando lá darei pessoalmente.
Se essa peça provoca o que o autor do artigo diz deve ser mesmo imperdível.
ResponderExcluirTbm quero sair de lugares, como de um teatro por exemplo, com sensações.
E se esse sair me promover coisas claras certamente estou perdendo algo em não ir.
Vou tentar me ajeitar com a geografia e distâncias para assistir esses filhos e essa mãe.
Nobre. Certamente um trabalho suado que só os que sabem o que isso significa reconhecem. Toda matéria manipulada por mãos que respeitam o conteúdo gera uma obra completa. Uma obra, não uma matéria de consumo hipocrísado.
ResponderExcluirNo último sábado assisti o espetáculo Os filhos da Dita, já conheço o trabalho do grupo e sempre gostei, mas me surpreenderam de novo, uma viagem emocional sem pieguice, bem humorada e provocante, essa sacada da Mãe Dita (eu li: maldita) que a Ana interpreta é incrível, nos dá o caminho pra entender o que está por debaixo dos panos, fiquei passado com as nuances do temperamento dessa dita cuja – um desequilibrio bem equilibrado – que procura justificar os seus meios porque quer aqueles fins. Ainda estou organizando as minhas idéias, a atuação da Ana é verdadeira, vibrante, e com uma força primeva que mesmo fazendo o inimigo nos faz pensar naquilo que ela está mostrando sem pré-conceitos. Parabéns, pras duas atrizes, é gratificante ver duas pessoas darem conta de tamanha tarefa. Vou voltar, preciso ver de novo. Sucesso pros Arlequins. André
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