segunda-feira, 30 de maio de 2011

Com que olhos devemos olhar...

A foto que ilustra esta postagem é a cena que encerra o espetáculo, mas não nosso trabalho.
Finalizamos nossa temporada no Teatro Coletivo. Foi muito bom... Muito!
Obrigado a todos que participaram desse projeto e o enriqueceram com expressões diversas. Todos fizeram parte de nosso trabalho. Com seus sorrisos, risos, caras, choros, ênfases, sussurros, cochichos, comentários, críticas, aplausos...

Evoé!

 

A ditadura, com sua mirada única
de barbárie e intolerância se foi…
Com que olhos devemos olhar o que surgiu da maré
em que se afogou mais de uma geração?
Com os olhos da continuidade “desenvolvimentista”
verde-oliva do acordo que foi ficando amarelo?
Com os olhos que viram romper a corda de um desenvolvimento
que poderia ter sido mais igualitário?
Com os olhos de acordo com um futuro,
que não pode nem pensar na corda com que se enforcou a liberdade,
para não comprometer o presente, comprometido com outras histórias?
Com que olhos se deve ver? Bem abertos? Bem fechados?
Com olhos de descobrir ossadas
que talvez nem tenham sido enterradas?
Com lágrimas secas de espantos e dores esquecidos?
Com dor? Com alegria de haver passado?
Com que olhos? Eis a questão.

sábado, 28 de maio de 2011

Os filhos da Dita

O tempo não é subjetivo
Mas coletivo
Porque nós o dividimos como um pão.
Um dia a Dita chegou.
Um dia a Dita ficou
Não se sabe do fundo de que intuição a certeza:
“vai durar pouco”, vã filosofia!
Durou muito mais
Quanto?
É a conta que queremos fazer
Queria que você soubesse
Queria que vocês soubessem
não a vida como ela é.
Ou foi.
Não a história contada em seus detalhes.
O assunto transborda:
Onde foi que enterramos o nosso passado?
São filhos querendo saber dos pais
São pais querendo saber dos filhos
Da mesma pátria
Das vizinhas
Que dor tem que ser abafada
Para se cumprir o ciclo civilizador da razão.
Quem está querendo enganar a quem,
nesse jogo de menos tendo mais.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Conflito no campo: um condenado para cada 17 assassinatos

por Gabriel Bonis e Matheus Pichonelli

No Pará, onde na terça-feira casal ambientalista foi morto em emboscada, apenas mandante de matar missionária está preso.

Nos últimos 25 anos, 1.614 pessoas foram assassinadas no Brasil em decorrência de conflitos no campo. Até hoje, apenas 91 casos foram julgados - e resultaram na condenação de 21 mandantes e 72 executores. Isso significa que a Justiça no Brasil levou às grades um criminoso para cada 17 pessoas assassinadas em todos esses anos.

O levantamento, feito pela reportagem de CartaCapital com base em números fornecidos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), indica a situção de impunidade existente no País, que, na última terça-feira 24, testemunhou a morte anunciada meses antes de duas lideranças ambientais após uma emboscada no Pará. Os números contabilizados se referem aos crimes ocorridos entre 1985 e 2010.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ditadura: Depoimento de Carlos A. Marighella

Depoimento de Carlos A. Marighella, filho de Carlos Marighella, político e militante fundador da ALN, assassinado durante o golpe de estado do governo militar brasileiro, que manteve o poder entre 1964 e 1985. Vídeo relata o momento mais obscuro da história nacional, gravado para a novela Amor e Revolução do SBT.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ainda se homenageia Hitler na Áustria e a ditadura militar em São Paulo

Fragmentos do artigo de Celso Lungaretti

Carlos Lungarzo, da Anistia Internacional, foi o sexto signatário da petição "Pela supressão dos elogios ao golpismo, à ditadura e ao terrorismo de Estado na página virtual da Rota".

Na abertura do seu comentário, tão relevante, fez uma comparação com o que, para ele, seria o absurdo dos absurdos:

"Vocês já imaginaram caminhar por uma rua de Berlim e, de repente, encontrar uma estátua de Adolf Hitler? Ou, então, consideram seriamente se seria possível existirem na prefeitura de Roma documentos oficiais elogiando Mussolini? E lembrem que o prefeito de Roma é neofascista. Mas mesmo assim ele não teria coragem, nem permitiriam que fizesse isso.

O Estado de São Paulo está na cabeça do mundo dos que louvam tiranos, torturadores, genocidas e terroristas de Estado. Quantas ruas, pontes, praças, têm nomes de assassinos da ditadura. Uma rua da cidade, onde foi prefeito o atual governador, tem o nome do psicopata que inventou o Opus Dei, aquela seita dos que se cortam a carne com correntes farpadas. Vivemos numa sociedade patológica, mas isso não é pretexto válido para a falta de ação do Judiciário e de outras autoridades."

terça-feira, 24 de maio de 2011

Cenas de tortura afastam telespectador de "Amor e Revolução"

Com a proposta de levar o público aos porões da ditadura militar no Brasil, "Amor e Revolução" estreou, no dia 5 de abril, no SBT, recheada de cenas de ação e violência. Tudo para mostrar aos telespectadores, da maneira mais fiel possível, as formas como os comunistas eram torturados pelos militares. No papel, a ideia era empolgante e inovadora. Mas, na prática, não funcionou tão bem. Com média de cinco pontos no Ibope e pico de nove, a trama passou por ajustes e exibirá muito menos sequências de afogamentos, choques, espancamentos e estupros.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

No tempo do neoliberalismo democrático

“Os labirintos que cria o tempo se desvanecem” (Federico García Lorca).

por Ari de Oliveira Zenha

O princípio democrático que norteia as sociedades capitalistas atuais tem um significado de construção e atuação dentro de um espaço nacional onde existe um pseudo pluralismo para se fazer possível manter a ordem social dentro dos parâmetros do capital.

Isto não significa que não seja importante e possível intervir, superar, aprofundando e ampliando, as estruturas do Estado democrático capitalista, mesmo dentro destes estreitos limites democráticos que foram conquistas históricas das lutas entre as classes que compõem a estrutura do modo de produção capitalista.

O pensamento liberal/neoliberal no seu desenvolvimento para e pelo capital, assumiu, para si, a roupagem democrática como orientação e tendência frente às imposições da realidade política e econômica vivida nas sociedades.

domingo, 22 de maio de 2011

Brasil: as novas táticas da repressão política

Além de utilizar a polícia para perseguir os lutadores sociais, agora, além da violência direta, os poderes do Estado movem processos jurídicos para intimidar os ativistas.

por Lúcia Rodrigues

A ditadura militar acabou, mas alguns resquícios desse passado sombrio nunca foram enterrados e teimam em se perpetuar como verdadeiros fantasmas que pairam sobre as cabeças daqueles que resistem e não se curvam diante das imposições dos donos do poder.

A perseguição aos que ousam se levantar contra as injustiças sociais neste país continua regra. E a criminalização da luta dos ativistas do campo e da cidade, uma constante. Apesar das torturas e dos assassinatos não terem deixado de ocorrer, principalmente nos rincões mais afastados deste país e nas periferias das grandes cidades, a repressão inovou em seu modo de agir. Sofisticou o discurso, para transmitir um ar de legalidade às ações.

sábado, 21 de maio de 2011

Depoimento da professora Amanda Gurgel

Professora Amanda Gurgel silencia deputados em audiência pública.
Depoimento resume o quadro da Educação no Brasil, sua condição precária.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Polícia Militar censura ato contra o genocídio da população negra

Ação contou com 12 viaturas da PM que tentaram impedir a manifestação

por Vivian Fernandes, da Radioagência NP

Assista ao vídeo:



As organizações que compõem o Comitê Contra o Genocídio da População Negra classificaram como “censura” a apreensão de faixas e cartazes no ato do “13 de Maio”, realizado na última sexta-feira, em frente ao Teatro Municipal, na cidade de São Paulo. Entre 12h e 20h, a mobilização reuniu movimentos negros, populares e sindicatos.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Do Luto à Luta!

Mães de Maio lançam livro sobre a chacina cometida em 2006 sob pretexto de resposta ao PCC

Em 12 de maio as chacinas cometidas em São Paulo completaram 5 anos. No mesmo dia as "Mães de Maio" prepararam o lançamento do livro "Do luto à luta - Mães de Maio", seguido de coletiva de imprensa e ato público.

O Genocídio do Estado Brasileiro

A violência do Estado Brasileiro contra sua própria população é um problema crônico reconhecido mundialmente. Segundo o “Mapa da Violência de 2011”, divulgado pelo insuspeito Ministério da Justiça, entre os anos de 1998 e 2008, mais de 500 Mil pessoas foram assassinadas no país – sendo grande parte delas vítimas da violência policial. Conforme outra pesquisa, divulgada em 2009 pela Secretaria de Direitos Humanos, UNICEF e Observatórios de Favelas, a continuar no mesmo ritmo de violência, mais de 33.5 mil jovens serão executados no Brasil no curto período de 2006 a 2012.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O emocionante minimalismo fragmentado do Arlequins

por Edson Frank

No meu blog, minha proposta é comentar o trabalho musical de amigos, parceiros e também o meu próprio, resumindo, é falar sobre música. Mas, não posso deixar de comentar o trabalho deste grupo de teatro maravilhoso que é o Arlequins, com a peça “Os Filhos da Dita” que entrou em cartaz dia 07/05, no teatro Coletivo, rua da Consolação, 1623 e permanecerá durante todo o mês, aos sábados (21h) e domingos (20h).

Sem entrar na questão política que o espetáculo aborda, quero focar o trabalho teatral do grupo, texto, interpretação, direção…

A espetacular interpretação das atrizes Ana Maria Quintal e Camila Scudeler, com sensibilidade e entrega a seus personagens, nos conduz com maestria e leveza pelas reflexões, questionamentos e emoções de um texto que sem ter conotação didática, exibe a realidade e a dor vivida nos anos de chumbo da ditadura brasileira, em toda a sua trajetória até nossos dias.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A barbárie da ditadura militar brasileira na peça "Os Filhos da Dita"

Com montagem brechtiana, a peça acompanha todo o período militar de 1964-85, destacando alguns de seus principais episódios com senso crítico, poesia e humor

Com um cenário minimalista, cenas estilizadas e muitas referências à cultura do período, duas atrizes recontam a história da ditadura militar brasileira desde o golpe até a reabertura.

Logo no início do espetáculo, há inúmeras referências aos golpistas e à deposição de João Goulart, a pretexto do “combate ao comunismo”. Muitas das campanhas da época realizadas pela burguesia para justificar o golpe são citadas nos textos da peça. Uma linha de tempo relaciona todo o desenvolvimento da conspiração militar, desde a primeira tentativa, em 1955, frustrada pelo suicídio de Vargas; passando pelas novas ofensivas da direita na posse de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e na transição para o governo Jango.

Em um texto denso, mas carregado de poesia e humor, as atrizes recontam alguns dos principais fatos do período, como a posse de Costa e Silva, o decreto do AI-5 e a barbárie que levou à luta de Lamarca e Mariguela, o assassinato de Vladimir Herzog e a campanha das Diretas Já. Todos os temas são apresentados com comentários críticos que introduzem um debate mais amplo sobre o tema.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Os Filhos da Dita ainda fecham os olhos e engolem o choro

por Cleyton Boson

Esse fim de semana dois eventos marcaram meu pensamento sobre o mundo. Mas especificamente, meu pensamento sobre o meu país. O primeiro evento foi ir ao teatro, a convite de um amigo, assistir uma estréia de espetáculo: Os filhos da Dita, trabalho que se propõe debater as marcas que a ditadura militar deixou em nossa carne e em nossa alma nacional.

Desde o início, o espetáculo chama a atenção pelo cenário limpo, mas repleto de elementos que trazem de volta a brutalidade e a perversidade dos anos sombrios de 1964 a 1985. Em cena, as atrizes do Grupo Arlequins, Ana Maria Quintal e Camila Scudeler, dialogam com a dor e o silêncio que ainda perpassa os ossos de cada brasileiro e brasileira que nasceu nestes últimos 47 anos, e que continuará nos atravessando até que os arquivos sejam abertos e o silêncio vá embora. Lembrando muito, por sua narrativa fragmentada, Reflexos do Baile, de Antônio Callado, que já em 1976 gritava para o silêncio ir embora.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Peça "Os Filhos da Dita" propõe reflexão sobre anos de chumbo

Em comemoração ao aniversário de 25 anos, o Arlequins, grupo teatral da Cooperativa Paulista de Teatro, estreia no próximo sábado (07), às 21h, a peça Os Filhos da Dita, no Teatro Coletivo, no bairro da Consolação, em São Paulo. Com direção de Sérgio Santiago e texto de Éjo de Rocha Miranda e Ana Maria Quintal, o espetáculo utiliza humor e lirismo para propor ao público uma reflexão sobre os anos de repressão vividos no Brasil e suas consequências nos dias atuais.

Com duas atrizes em cena, a montagem procura retratar momentos importantes que marcaram a ditadura brasileira. Não se limita simplesmente a rememorar os fatos, mas a refletir sobre os acordos políticos feitos durante o golpe militar e os frutos colhidos pelos herdeiros dessa época. “Tudo que veio depois da ditadura é filho da Dita”, afirma o diretor Sérgio Santiago.

Houve mais camponeses mortos no Araguaia do que se fala

por Tatiana Merlino, de Marabá (PA)

Interrompidas pelas chuvas de verão no final do ano passado, as buscas do GTT – Grupo de Trabalho Tocantins – pelos restos mortais dos desaparecidos na região do Araguaia durante a guerrilha (1972-1975) devem trazer resultados nas próximas expedições, que se iniciam em maio. “Continuamos enfrentando a resistência dos comandantes em entregar à Justiça os documentos exigidos, mas depoimentos de camponeses e militares trouxeram pistas importantes, que podem finalmente nos levar ao paradeiro de corpos nessa nova etapa”, disse à Pública a juíza Solange Salgado, da 1ª Vara da Justiça Federal, em Brasília.

Exposição Fotográfica em Cubatão reconta história da ditadura no Brasil

Está aberta ao público a Exposição "Direito à memória e à verdade - a ditadura no Brasil, 1964-1985", que reúne fotos e textos sobre o período turbulento da ditadura militar. A ideia do projeto é levar à população o conhecimento sobre esse período da vida nacional. A abertura oficial contará com a exibição do documentário "Ato de fé", sobre a participação da igreja no período ditatorial.

A Mostra reúne paineis compostos por 110 fotografias, são imagens que marcam desde a deflagração do golpe militar, em 1964, à retomada da democracia, passando por revoltas estudantis e pelas campanhas de anistia e das "Diretas Já". A exposição traz ambientação sonora e visual, conduzindo o público a uma viagem no tempo. São registros de um passado marcado pela violência e pela violação aos direitos humanos.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Terra Sem Lei

por Carlos Juliano Barros

Impunidade em homicídios cometidos no campo, devastação da floresta amazônica, trabalho escravo, grilagem de terras. No Pará, a forte impressão de que a lei só funciona para os poderosos se deve em grande parte a quem deveria zelar por ela: O poder Judiciário.

Uma noite escaldante como outra qualquer cai sobre Marabá, o principal município do sul do Pará. Para digerir o tucunaré da janta, eu, José Batista e sua esposa caminhamos a passos tranquilos pela avenida que beira o rio Tocantins, dominada pelos bares e restaurantes mais concorridos da cidade. O trânsito está bastante carregado e as caixas de som de alguns carros, prestes a explodir devido ao altíssimo volume dos forrós que dominam a cena musical da região, deixam o ambiente ainda mais caótico. Mesmo assim, é impossível deixar de notar o motoqueiro que repentinamente se aproxima de nós, decidido a dar um recado com sua voz anônima, abafada pelo capacete. "Ei, advogadinho do povo, cuidado para não morrer, hein?", balbucia o condutor da motocicleta antes de acelerar e se perder na multidão. O advogadinho do povo, no caso, é o próprio Batista, um mineiro de corpo franzino e semblante sereno que já se aproxima dos 50 anos, mas que chegou ao segundo maior estado do Brasil há algumas boas décadas. Quando decidiu trocar a carreira de padre pela faculdade de direito, ele passou a conviver com todo tipo de ameaça e brincadeira de mau gosto. Estranhamente, Batista já parece ter se acostumado a esse tipo de situação. Por isso, sorri amarelo e se esforça para não demonstrar desespero à sua esposa, que o abraça calorosamente, como se pudesse protegê-lo.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Justiça feita ou licença para matar?

por Rodrigo Martins

A Justiça foi feita”. A frase marcou os discursos do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, após o anúncio da morte do líder da rede terrorista Al Qaeda, Osama Bin Laden, no domingo 1º. À luz do direito internacional, no entanto, a declaração é falaciosa, alerta o colunista Wálter Fanganiello Maierovitch, desembargador aposentado e presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, de combate ao crime organizado. “Obama deu continuidade à doutrina Bush, de dar licença para matar, em vez de capturar e julgar os acusados de envolvimento com o terrorismo.”

segunda-feira, 2 de maio de 2011

30 anos depois do atentado ao Riocentro

Fatos novos e revelações ajudam a esclarecer a verdade

O Atentado ao Riocentro foi um frustrado ataque terrorista que seria perpetrado no Pavilhão Riocentro na noite de 30 de abril de 1981, por ocasião da realização de um show comemorativo do Dia do Trabalhador, com roteiro de Chico Buarque de Holanda e direção de Fernando Peixoto.

Um ato criminoso, que previa a explosão de bombas causando pânico e mortes entre os participantes, planejada por uma equipe do DOI-CODI, culminou com a morte do sargento Guilherme Pereira do Rosário e deixou o então capitão Wilson Dias Machado gravemente ferido.